Presidente do Sindserj, Nilton Soares, defende, em carta na internet, a importância da profissão de Sociólogo. Leia o texto na íntegra.
A aventura sociológica ou talvez a imaginação sociológica, como diria C. Wright Mills, tem nas lutas sociais/sociedade o seu espaço tanto do ponto de vista de afirmação social/profissional e como objeto de estudos do sociólogo.
As reflexões e interdisciplinaridades são inerentes a nossa área profissional, não temos como pesquisar a sociedade reproduzindo uma forma de análise dogmática, se nos referirmos à antropologia na qual mais se identifica, Claude Lévi-Strauss, poderia pela sua abordagem, pelo seu pensamento, ser incluído tanto na filosofia, na psicanálise como em outras.
A "natureza" de nosso estudo é interdisciplinar por excelência e isto é o que melhor nos qualifica perante as outras áreas.
Mas por outro lado, a profissão não pode ser entendida da mesma forma que o conhecimento, se este é interdisciplinar, no mercado de trabalho, as coisas se passam de outra forma.
A proposta de profissões politécnicas poderia talvez se aproximar desta noção de interdisciplinaridade, como Gaudêncio Frigotto discute nas suas obras. O que ocorre nas áreas mais complexas do capital, o profissional altamente qualificado tem que ter uma abordagem interdisciplinar, mas em geral o que ainda predomina é um modelo fordista no mercado de trabalho.
Nos países centrais do capitalismo, não tem essa história do mérito sem ter uma qualificação confirmada. Se não fosse assim, Harvard e outras instituições não seriam mais necessárias, excluindo as áreas mais complexas, como mencionei acima.
A universidade cada vez mais tem sido ator central na questão da definição do mercado de trabalho, não é casual que tantas multinacionais investem em universidades privadas no Brasil, financeirizando este campo. A Estácio de Sá foi uma das pioneiras ao transformar a sua natureza jurídica para empresa de capital aberto. Hoje a família Uchoa que detinha o controle da instituição vendeu sua participação para estas multinacionais, como vêm ocorrendo com todas as outras. A universidade deixou de ser espaço dos bacharéis e doutores em filosofia, direito e medicina, ela é um dos atores fundamentais no capitalismo, onde a ciência e tecnologia se encontram. Não é mais possível fazê-las somente nas grandes corporações, como se fazia no recente passado na IBM, o capital precisa do Estado como parceiro para os altos investimentos necessários na área.
Assim, são elas, as multinacionais, com os seus lobbys nos Conselhos Estaduais de Educação, nas Secretarias de Educação, nas Alerjs do país, no Congresso e no MEC e até em sindicatos de professores, que vão moldar o mercado de trabalho a partir das universidades e neste sentido a precarização de nossa profissão segue esta lógica de concentração do capital.
Ao lutarmos pela nossa profissionalização, debate ainda distante de nossos cursos de ciências sociais e da universidade em geral, estamos num momento histórico do desenvolvimento do capitalismo, no qual a desregulamentação das profissões é uma das variáveis a ser enfrentada e superada neste capitalismo que nos engole.
Sem particularizarmos a nossa profissão, basta ver como os colegas professores vem sendo tratados na rede pública e privada de ensino, os policiais do nosso estado tem um salário inicial maior que os professores estaduais, sem nenhum curso superior como pré-requisito para ocupar a função de policial, como é exigido dos professores.
O estado e o capitalismo precisam de polícia para proteger a propriedade, mas não de professores, para os centros tecnológicos, basta investir nos centros de excelência e deixar a universidade das graduações no limbo, no lúmpem do sistema. Nas universidades públicas qual o incentivo para atuar nas graduações? Não é mera coincidência nelas se formarem os profissionais e os professores distantes nas suas pós, reforçando mais o sistema de exclusão dos graduados formados no mercado de trabalho.
Na agenda de nossa entidade pretendemos em outubro realizar evento para discutirmos a questão dos professores de Sociologia de nosso estado, mas considerando o caos em que se encontra a educação, qualquer abordagem específica tem que considerar este universo no qual os professores foram colocados no chamado "lúmpem" do mercado de trabalho.
Agora, a nossa discussão sobre a nossa profissão precisa superar a abordagem metafísica que nos colocamos, sairmos da "Fogueira das vaidades" que a nossa universidade pública se colocou ao se distanciar destas questões e deixar de lado também de "rotular" os atores e entidades que discutem a nossa profissão.
O colega fez uma boa análise de nossos cursos ao lembrar a invenção das Ciências Sociais pela ditadura e a sua proposta que o nossos cursos permitam que os alunos escolham qual a área de suas escolhas: sociologia, antropologia ou ciência política. Só que para se definir estas escolhas penso que a antropologia e a ciência política precisam também ser definidas como profissões, ou senão ficamos como estamos, elas se definem como áreas de conhecimento a partir das suas respectivas pós.
Do ponto de vista da ABA esta não é uma de suas preocupações, um químico com pós em antropologia pode ser um antropólogo na definição de critérios da ABA. Sugiro que os antropólogos repensem a sua questão profissional, o Sindserj estará contribuindo nesta discussão que entendemos ser necessária para discutirmos nossas profissões, afastando-nos finalmente do credo abstrato denominado Ciências Sociais. A nossa discussão pode se pautar em regulamentarmos a antropologia e a ciência política, como a Sociologia foi regulamentada, já que há uma demanda profissional nessas outras áreas.
São estas as minhas sugestões!
Abraços,
Nilton Soares de Souza
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