O Brasil passa neste momento histórico por uma das suas maiores
crises, seja ela política, econômica e social. No campo político, desde o
término das eleições de em outubro de 2014, com a reeleição da presidente Dilma
Roussef com 54 milhões de votos, a oposição faz uma sistemática campanha contra
a mandatária. Adotando a mesa tática da UDN nos anos 1950 contra Getúlio e 1960
contra Jango, que era “se ganhar não toma posse e se tomar posse não governa”.
Adota o lema de quanto pior melhor. E para isso todos os meios possíveis
justificam o fim da abreviação do seu mandato. Votam temas e propostas na
Câmara dos Deputados que jamais teriam votado sob o governo tucano anterior,
mesmo que isso possa levar o país à bancarrota.
O quadro mais surreal possível que assistimos neste momento é
que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, flagrado com milhões
de dólares em contas protegidas na Suíça e não declaradas ao fisco, conduz um
processo de impeachment da presidente quando não há sequer uma prova de que ela
tenha cometido crime de responsabilidade como determina a Constituição nestes
casos.
O quadro vai ficando dramático em função de uma polêmica
“operação” chamada de Lava Jato, com 24 ações e operações, todas elas com ampla
cobertura na mídia, que vai passando por cima das leis e da própria
Constituição da República. Os dois episódios mais grotescos cometidos pelo juiz
do PR que virou herói da classe média, foram o sequestro do ex-presidente Lula
em 4 de março e o grampo imposto em ninguém menos que a presidente da República
em 11 de março.
O que está em jogo em nosso país é a garantia de que seguiremos
um país democrático e que respeita suas leis, sua Constituição e o resultado de
eleições presidenciais. Sabemos que o pano de fundo de tudo isso envolve pelo
menos: 1. A apropriação do nosso pré-sal; 2. Criminalização dos movimentos
sociais; 3. Instauração de um estado comandado por uma ditadura
judicial-midiática (aliança de juízes, promotores, policiais com a imprensa
golpista); 4. Saída do Brasil dos BRICS, fim do Mercosul e criação da ALCA; 5.
Retomada acelerada das privatizações (incluindo a Petrobras, o Banco do Brasil
e a Caixa Econômica Federal entre outras) e 6. Elevação brutal do superávit
primário, canalizando ainda mais bilhões e bilhões de juros para os rentistas
nacionais e internacionais.
Os sociólogos brasileiros pagaram caro pela ditadura de 21 anos
em nosso país (1964-1985). Vários de nossos colegas foram mortos, cassados,
aposentados compulsoriamente, exilados, presos e torturados. Resistimos nos
anos de chumbo do regime militar. Desde 1979 quando passamos a realizar nossos
Congressos Nacionais estes sempre aprovaram em suas plenárias finais,
documentos de análise política e de conjuntura, colocaram-se ao lado do povo
mais sofrido e em defesa da democracia e do pleno estado democrático de
direito.
Neste momento, mais uma vez, não ficaremos omissos. Em função
disso, a nossa Federação Nacional dos Sociólogos – Brasil vem a público clamar
em alto e bom som que não aceitaremos golpe de estado, não aceitaremos nenhum
retrocesso em nossas conquistas democráticas e somaremos nossas vozes e nossa
ação ao lado de juristas, intelectuais, artistas, lideranças sindicais e
populares que, neste momento, defendem com firmeza a bandeira da democracia e
dizem bem alto: NÃO VAI TER GOLPE! Nós também gritaremos juntos.
* Defesa do Estado Democrático de Direito;
* Garantia de amplas liberdades políticas e respeito às leis e à nossa
Constituição;
* Não à criminalização dos movimentos sociais;
* Defesa do mandato da presidente Dilma Roussef;
* Não ao golpe que está em curso em nosso país.
Rio de Janeiro, 21 de março de 2016.
Federação Nacional dos Sociólogos - Brasil