Qual a importância de manter o ensino da
Sociologia no Ensino Médio?
Em
um projeto de educação emancipatória, o ensino da Sociologia cumpre papel
fundamental na formação de sujeitos com consciência crítica, capazes de
compreender a realidade e os fatores que promovem a dinâmica social, concorrendo, portanto, para o desenvolvimento
e exercício pleno da cidadania.
Ao
longo dos séculos, a Sociologia teve idas e vindas no currículo escolar, desde
que foi incluída no “curso secundário”, no final do século XIX, ainda no
período do Império, pelo então deputado Rui Barbosa. Assim como na sua própria
origem, a Sociologia foi apresentada, em períodos diversos, como disciplina
científica importante para a compreensão e promoção de transformações sociais
inovadoras e progressistas. Assim foi no período de transição da Monarquia para
a República, por exemplo. Do mesmo modo, a ausência e desvalorização da
disciplina, esteve sempre relacionada a contextos políticos reacionários,
movidos por forças conservadoras, como no período da ditadura militar.
É
de se compreender e esperar que governos progressistas, que prezam por uma
educação de qualidade como fator de inclusão e transformação social,
consequentemente valorizem e invistam na Sociologia na preparação de sujeitos
políticos, novos cidadãos capazes de refletir e atuar em contextos sociais
também renovados.
É
desse modo que a luta pelo retorno da disciplina Sociologia ocorreu dentro do
contexto de redemocratização da sociedade brasileira, a partir dos anos 1980.
As associações profissionais, os sindicatos de sociólogos e, mais tarde, a FNS
– Federação Nacional dos Sociólogos - tiveram papel fundamental nessa luta.
A
luta por uma educação pública, gratuita, laica e de qualidade social passa a
ser um dos pontos centrais nas lutas democráticas. Dentro dela, a volta do
ensino da Sociologia no Ensino Médio passa a ser uma das importantes bandeiras
na luta por uma educação formadora de cidadãos críticos.
No
decorrer da luta, um número significativo de unidades da federação incluiu a
disciplina de Sociologia no currículo escolar, formalmente, através de leis e
até nas constituições estaduais.
Nos
anos 1990, tramitou na Câmara Federal, o projeto de Lei 3.178/1997, levado
adiante pelo deputado Padre
Roque Zimmerman (PT/PR), que propunha a Filosofia e a Sociologia como
disciplinas obrigatórias no Ensino Médio. Mas, para a perplexidade dos/as
educadores/as e da sociedade organizada, o projeto foi vetado na íntegra pelo
presidente da República, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
Somente
em 2006, durante o primeiro mandato do Presidente Lula, o Ministro da Educação,
Fernando Haddad, homologou o parecer 38/2006 do CNE – Conselho Nacional de
Educação – tornando a Sociologia disciplina obrigatória no Ensino Médio. Menos
de dois anos depois, em 2 de junho de 2008, o presidente da República em
exercício, José Alencar Gomes da Silva, assinou a Lei 11.684, tornando a
disciplina de Sociologia obrigatória na Educação Básica, nos três anos do
Ensino Médio das escolas públicas e privadas do Brasil.
Em
2017, depois do golpe parlamentar-jurídico-midiático contra a presidenta Dilma,
a disciplina de Sociologia voltou a sofrer novo ataque, uma vez que a Lei
13.415/2017, do governo Temer, que reforma o Ensino Médio, retirou a
obrigatoriedade desta disciplina.
No
ano de 2022, as forças democráticas e progressistas da sociedade brasileira se
reorganizaram e elegeram Luís Inácio Lula da Silva para o seu terceiro mandato.
Em 31 de julho, o presidente Lula sancionou a Lei nº 14.945/2024, que
estabelece a Política Nacional de Ensino Médio. A lei, que passou a valer em
2025, altera a Lei nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e
revoga parcialmente a Lei nº 13.415/2017, que dispõe sobre a reforma do ensino
médio, o chamado NEM.
“A
retomada da carga horária da formação geral básica para 2.400 horas era uma demanda
crucial dos professores e dos alunos, permitindo o retorno de disciplinas como
história, biologia, sociologia e educação física. Isso garantirá uma formação
mais completa para os alunos do ensino médio brasileiro.” (Camilo Santana,
ministro da Educação)
A
Lei 14.945/2024 abre caminho para o retorno da Sociologia no Ensino Médio, uma
disciplina fundamental para o entendimento das relações humanas e para a
educação emancipatória dos nossos estudantes.
Assim, a FNS-B (Federação Nacional dos
Sociólogos – Brasil) espera que os Governos que se alinham às forças
progressistas da sociedade brasileira, principalmente nos Estados de tradição
democrática e de luta pela emancipação social, assumam orientações
político-pedagógicas para as suas matrizes curriculares, que estabeleçam a
Sociologia como um componente curricular essencial dessa matriz, de modo que
essa disciplina venha compor os três anos no Ensino Médio com, no mínimo, 2
tempos de aula semanais.
Sem
mais, desejamos aos governos, grande sucesso, mantendo a expectativa de
construção de uma sociedade amplamente democratizada, portanto, sempre mais
justa e inclusiva, construída com a participação cidadã.
Saudações
Democráticas,
FNS-B – Federação Nacional dos Sociólogos –
Brasil.
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