No dia 10 de dezembro é comemorado o dia do Sociólogo. Profissão que foi regulamentada em 1980 e foi incluída como matéria obrigatória no Ensino Médio em 2008, restaurando a exclusão que a ditadura fez com a sociologia e filosofia. No entanto, se temos o que comemorar com a inclusão na disciplina nos três anos do ensino médio, ainda teremos que empreender uma longa luta para efetivar esta lei. Pois, no momento ocorrem muitos desvios de função no ensino desta disciplina no sistema público do estado, com professores de outras disciplinas lecionando sociologia.
Isto sem mencionarmos o que ocorre no sistema privado de educação. Hoje a maior visibilidade da sociologia se dá em função da inclusão no Ensino Médio, com todas as distorções que temos tentado corrigir, promovendo com os deputados Audiência Pública na ALERJ, promovendo audiência com Secretaria de Educação do Estado para o reconhecimento do diploma do licenciado em Ciências Sociais habilitado a lecionar sociologia no Ensino Médio, pedido de retificação em editais de concursos incluindo o bacharel e licenciado em Ciências Sociais, entre outras medidas.
Há muito que fazer ainda para que o licenciado em Ciências Sociais conquiste uma paridade de condições com outras disciplinas oferecidas na estrutura de ensino. O SINDSERJ mesmo não sendo um sindicato de professores, como os SINPRO's e o SEPE, tem se ocupado do magistério da sociologia, por entender que o campo do magistério é um espaço que poderá ampliar possibilidades para os profissionais de sociologia trabalharem em ONGS, empresas públicas e privadas e esferas governamentais, entre outras instituições, tornando visível para a sociedade como um todo a importância da sociologia. O Ensino Médio, como a educação em geral, é um dos melhores caminhos para alcançar a médio prazo o objetivo de tornar a sociologia uma profissão de fato.
Por isso não nos apartamos da luta pela efetivação da lei desde que o SINDSERJ foi fundado em fevereiro de 2008.
A Sociologia como uma profissão de fato é outra luta articulada com os professores de sociologia. Podemos ao menos perceber em geral que o licenciado em Ciências Sociais não tem crise de identidade ao lecionar a disciplina de sociologia, como ocorre com os bacharéis de Ciências Sociais, habilitados para o exercício da profissão de Sociólogo, que acabam não se identificando com a denominação exclusiva de sociólogo como profissional. Há uma confusão generalizada que se inicia no próprio curso de graduação, onde o aluno não é informado que as outras áreas de conhecimento que entram na grade curricular do curso de Ciências Sociais não são profissões reconhecidas. Inclusive, as entidades acadêmicas dessas áreas se afastaram há muito tempo da luta pelo reconhecimento desses campos como profissões, apesar de terem sido abertos cursos de graduação nessas áreas recentemente. O curso de Ciências Sociais só habilita o bacharel para o exercício da profissão de sociólogo.
Na pesquisa a profissão de sociólogo é um campo ainda a ser explorado como objeto. A obra de BOURDIEU, P.; CHAMBOREDON, J.-C. & PASSERON, J.-C.. 1999. A profissão de sociólogo. Preliminares epistemológicas.
Petrópolis : Vozes., mesmo tendo este título não aborda o campo profissional e escasseia em geral publicação sobre a profissão. Isto certamente reflete o desinteresse da universidade pela profissão e o curso de Ciências Sociais que deveria de fato habilitar para o exercício da profissão nem promove pesquisa sobre a área. Apesar dos eternos debates anuais sobre o ensino de sociologia, isto não tem se refletido simultaneamente na luta pela profissão. Assistimos os debates "teorizando" a partir de casos e experiências de professores reconhecidos como intelectuais do campo e históricos como referências.
Mas a pesquisa que deveria subsidiar esses debates não fica evidenciada e desconhecemos publicação que aborde o tema de forma mais ampla, como o momento exige ao se incluir a sociologia no Ensino Médio. O que ocorre em geral são obras de coletâneas de artigos com
títulos pretensiosos ou sobre legislação e histórico de algumas entidades que estiveram na luta pela inclusão da sociologia no Ensino Médio. A inclusão da sociologia bastou ter sido consagrada na lei e o movimento que era promovido por essas entidades se devanesceu e hoje muitas só vivem do seu glorioso passado. Houve uma ingenuidade em pensar que a lei resolveria um problema que os próprios cursos tinham dificuldade de reconhecer na própria formação dúbia que eles ofereciam.
Outra questão é a forma de se enfrentar a luta pela profissão, ignorando a importância de um sindicato. As entidades acadêmicas que deveriam também estar nesta luta, acabam ocupando outros espaços, lutando pela divulgação da pesquisa e por mais verba. Apesar do momento histórico que originou a criação dessas entidades no passado ter tido uma confluência com os movimentos sociais, infelizmente isto não ocorre mais. Ao contrário, vemos esforços não tão isolados, para que entidades sindicais de sociólogos não prosperem pelo país em contraste com um grande interesse em se criar Conselhos Federais e Regionais de Sociólogos, cartórios com altas verbas para serem conquistados. A luta política pela criação desses conselhos se confundiu muitas vezes pela luta na criação de sindicatos. Se o governo não tivesse posto uma limitação à criação dessas autarquias esta discussão com certeza estaria na pauta do movimento e também com certeza muitas entidades acadêmicas estariam próximas do movimento para participarem dessas autarquias e não tão afastadas como estão.
Enfim, ainda temos uma longa luta para tornar a profissão do sociólogo uma profissão de fato, com amplo reconhecimento na sociedade.
Abraços,
Nilton Soares de Souza
Presidente do SINDSERJ