A Contee e a União Nacional dos Estudantes (UNE) estão
preparando uma campanha conjunta contra a mercantilização da educação.
"Sempre atuamos juntos, em defesa da educação pública, laica e de
qualidade, mas o golpe que colocou Michel Temer na Presidência da República
aumentou a ofensiva governamental-patronal contra o ensino público. Mais do que
a unidade de propósitos, a unidade de ação se faz necessária neste
momento", afirmou o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis.
Nesta sexta-feira, 19, Gilson e o coordenador da Secretaria
de Finanças da Contee, José de Ribamar Virgolino Barroso, reuniram-se com a
presidenta da UNE, Marianna Dias, e com a diretora de Universidades Privadas da
UNE, Keully Leal, para dar início às discussões para preparar agenda de ações e
manifestações para esclarecer que educação não é mercadoria. No ano passado, a
UNE esteve presente em várias lutas da Contee e suas entidades filiadas. Em
julho, a luta contra o sucateamento das universidades particulares tomou força
maior. Aumento das mensalidades acima da inflação, demissão em massa de
professores e a redução da carga horária das aulas foram alguns dos motivos que
levaram as entidades filiadas paulistas e os estudantes das Faculdades
Metropolitanas Unidas (FMU) a organizar diversos protestos.
Em dezembro, assim com a Contee, a UNE denunciou que a nova
lei trabalhista pode fazer da Estácio uma fábrica de diplomas.
"Constrangimento, descaso e fraude marcam primeira demissão em massa no
setor educacional desde o fim da CLT", afirmou Marianna. No dia 13,
estudantes e professores da Estácio participaram de protesto organizado pelo
DCE e Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sinpro-Rio) na unidade João
Uchoa, no Rio Comprido, contra a demissão de 1.200 professores em todo o país
pelo Grupo Estácio.
A estudante de Direito e representante do DCE da Estácio,
Luiza Cabral, afirmou que a preocupação dos estudantes é a qualidade da
educação. “Estamos vendo nossa universidade ser transformada em uma fábrica de
diplomas”. Ela contou que demitiram os melhores professores, os que tinham as
melhores avaliações institucionais que a universidade faz a cada seis meses,
que não foram levadas em conta.
Segundo a diretora de Comunicação da UNE, Nágila Maria, a
entidade "sempre defendeu que a educação não seja tratada como mercadoria
e já travou diversas lutas contra os tubarões do ensino e conglomerados
educacionais que lidam com a formação de milhares de estudantes com base apenas
em números na bolsa de valores. Sabemos que o caso da Estácio não será
isolado”.
Uma semana depois, no Rio Grande do Sul, os estudantes da
UniRitter e da Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (FADERGS), que
pertence à Rede Laureate, receberam presentes de Natal difíceis de engolir:
troca de currículo, redução da carga horária e demissão de professores. A
estudante de Comunicação, representante do Diretório Central dos Estudantes da
FADERGS e da União Estadual de Estudantes (UEE), Pâmela May, denunciou que
muitas disciplinas deixaram de existir, bem como algumas presenciais passaram a
ser EAD sem critério nenhum. “Antes só disciplinas institucionais como
planejamento de carreira que são obrigatórias em quase todos os cursos eram
EAD, agora não sabemos mais”, afirmou.
Na UniRitter, a mudança no currículo reduz a carga horária de
estudo. ”A universidade diz que não vai haver prejuízo para os alunos e que vão
dar duas semanas a mais de aulas para compensar. O problema é que fazemos as
contas e não fecha, está faltando carga horária”, destacou o estudante de
História e presidente do DCE Uniritter FAPA, Guilherme dos Santos Fernandes.
De acordo com o diretor do Sinpro e da Contee, Amarildo
Cenci, “o critério de demissão foi o salário mais alto”. Pâmela destacou o
"diálogo com os professores do Sinpro, porque sabemos que as mudanças no
currículo não estão descoladas das demissões decorrente da reforma
Trabalhista”, afirmou Pâmela.
Também em dezembro, estudantes da FMU e da Anhembi Morumbi
se manifestaram contra as reformas da Rede Laureate, grupo educacional que
administra as duas universidades. Os universitários saíram da Praça do
Patriarca e foram até a Rua Libero Badaró, onde fica o escritório central da
Universidade Anhembi Morumbi. Keully acredita que a agenda de desmonte do
governo em relação às universidades está clara. "Em 2018 a coisa deve
ficar pior porque eles vão começar a trabalhar dentro dessas novas leis
trabalhistas. Por isso, a UNE está construindo
uma agenda forte de luta contra todas essas ações que estão sendo
tomadas”, falou. Ela escreveu artigo sobre a brecha que a nova legislação abriu
para precarização no ensino privado. Leia aqui
http://www.une.org.br/opiniao/os-impactos-da-reforma-trabalhista-no-ensino-superior/
Nicole Carvalho, diretora de universidades privadas da
UEE-SP, acusa que "as demissões partem dos 'tubarões do ensino', que
administram as universidades e agem sem regulamentação por parte do Ministério
da Educação". Nayara Souza, presidenta da UEE-SP, observou que o anúncio
de mudanças sempre é feito nas férias para desmobilizar as manifestações contrárias,
porém o chamado é convocar todos os estudantes para barrar essas demissões e
reformas. “Estamos nas ruas contra a mercantilização e não vamos parar.
Estaremos cada canto desse país, incomodando essas redes, convocando mais
pessoas à nossa luta.”
Para Gilson, "as ações conjuntas potencialização a
nossa luta pelos direitos dos trabalhadores nos estabelecimentos de ensino e
pela educação de qualidade".
Carlos Pompe
19 Janeiro 2018
Link: http://portalctb.org.br/site/noticias/brasil/contee-e-une-em-campanha-conjunta-contra-mercantilizacao-da-educacao