As 77 organizações de movimentos sociais e partidos de esquerda reunidos na noite de terça-feira (25), aprovaram o 11 de julho como Dia Nacional de Paralisação e Luta da Classe Trabalhadora. A data foi proposta pelas centrais sindicais, quando realizarão paralisações em todo país.
Encontro no sindicato dos Químicos reuniu representantes de 77 organizações
Também aprovou-se uma plataforma política unificada que inclui as reformas política (com plebiscito), urbana e da mídia, além de temas relacionados aos direitos humanos, como o fim do genocídio da juventude negra.
Durante a abertura do encontro, realizado no Sindicato dos Químicos de São Paulo, no bairro da Liberdade, em São Paulo, João Paulo Rodrigues, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que mediou o encontro, passou o informe sobre os nove pontos acordados na reunião das centrais, ocorrida na manhã de terça: “A data aparentemente parece distante, no entanto, as centrais justificaram que é preciso tempo para mobilizar as bases dos trabalhadores nas fábricas. Os dirigentes lembraram que os operários não se mobilizam pelo Facebook. Então a proposta deste encontro é envolver também os camponeses, os indígenas e toda a classe trabalhadora representada aqui pelas organizações”, disse João Paulo.
A partir da apresentação da plataforma aprovada pelos dirigentes sindicais das oito centrais, militantes de 25 organizações se posicionaram e acrescentaram sugestões. Ao final, as organizações aprovaram oito propostas, divididas em dois blocos. O primeiro bloco reúne as reformas, incluindo a democratização dos meios de comunicação, tema apontado em todas as falas das organizações.
“A gente quer reforçar a proposta sobre a reforma urbana que inclui educação, transporte e saneamento. Outro tema urgente que tem sido instrumento de manipulação das massas pela burguesia, é a luta pelo marco regulatório da mídia, que criminaliza os movimentos sociais”, enfatizou Antonio Pedro de Souza, o Tonhão da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), que também sinalizou a importância da negociação da dívida pública das cidades com a União para que as reivindicações das ruas possam ser atendidas.
Já o segundo bloco reúne os denúncias que se referem aos direitos humanos e ao avanço das ideias conservadoras no Congresso Nacional. No segundo bloco, estão os pontos que abordam os direitos humanos: contra o genocídio da população negra e dos indígenas; contra o Estatuto do Nascituro e a proposta de cura gay; contra a repressão e criminalização das lutas dos movimentos sociais; contra a redução da maioridade penal e pela punição dos torturadores da ditadura militar. Somadas às das centrais, resultam em 11 temas unificados.
Os pontos unificados pelas centrais, apresentados à presidenta Dilma durante o encontro em Brasília, nesta quarta (26), são: fim do fator previdenciário; 10% do PIB para a Saúde; 10% do PIB para a Educação; redução da Jornada de Trabalho para 40h semanais, sem redução de salários; valorização das Aposentadorias; transporte público e de qualidade; reforma agrária; mudanças nos Leilões de Petróleo e rechaço ao PL 4330, sobre terceirização.
“Fora isso, temos 31 orientações políticas ditas aqui, como a questão da privatização do setor energético, então vamos considerá-la no ítem contra os leilões do petróleo, mas dificilmente teremos como debater isso agora”, observou João Paulo ao final do encontro, que terminou por volta das 22 horas. Um novo encontro ficou marcado para o dia 2 de julho, no mesmo horário (19h) e local, quando será tratada a mobilização e a natureza das lutas para o 11 de julho. “Será uma jornada nacional e, portanto, é importante nos reunirmos para tratar detalhes e não corrermos o risco de fazer um ato que não vai acumular força na luta”, reforçou o líder do MST.
Para Luiz Gonzaga, o Gegê, da Central dos Movimentos Populares (CMP), a luta da classe trabalhadora e do novo proletariado passa por “outro viés”. “A CMP, que se reuniu no final de semana, defende a convocação de plebiscitos e referendos como instrumentos de fortalecimento da democracia, bem como o fortalecimento da participação popular em conselhos com caráter efetivo de deliberação e não indicativo; o financiamento público das campanhas eleitorais, a reforma urbana e defesa da função social da propriedade, zerar o déficit habitacional e aplicação imediata de IPTU progressivo”, destacou Gegê durante sua fala. O representante da CMP também mencionou a luta pelos 100% dos recursos dos royalties do pré-sal para a educação, os 10% do PIB para a saúde pública e as reformas agrária e urbana que sem isso “seremos um país direcionado ao fim pela miséria total”.
Juventude
O vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Mitã Chalfun, contou aos presentes que a entidade, reunida no domingo (24), elegeu cinco pontos prioritários de sua luta, que serão levados para a mobilização de quinta (27) e apresentados para a presidenta Dilma durante reunião agendada com a juventude, na sexta (28): 10% do PIB para a educação e 100% dos royalties do petróleo; contra o Estatuto do Nascituro e contra a cura gay; pela democratização das mídias; pela reforma política e pelo passe livre estudantil.
Enquanto a reunião ocorria, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei 5.500/2013 que destina 75% dos royalties do petróleo para a educação e os 25% restantes para a área da saúde na madrugada desta quarta-feira (26). “A UNE faz mais um golaço! Sob pressão das lutas estudantis, Câmara dos Deputados acaba de aprovar a destinação de 50% do Fundo Social do Pré-sal para educação pública e 75% dos royalties do petróleo para educação e 25% para saúde! Esta proposta do Fundo Social foi elaborada pela UNE, ganhou força nas nossas lutas e hoje se tornou uma grande vitória! Viva a luta dos estudantes brasileiros”, comemorou a presidenta da UNE, Virgínia Barros, a Vic, nas redes sociais. Vic acompanhou a votação na capita federal e agradeceu a todas as entidades do setor que foram “fundamentais para a conquista”, além de “deixar um abraço fraterno para Augusto Chagas e Daniel Iliescu, ex-presidentes da UNE que abriram as portas desta luta e tornaram esta vitória possível”.
A estudante de geografia Mayara Vivian, uma das representantes do Movimento Passe Livre (MPL), esteve no encontro de terça-feira à noite para se somar às forças da esquerda. “A gente sempre deu uma orientação política de que quanto mais iniciativas de esquerda melhor. Não precisamos centralizar num único espaço para estar junto. Na medida do possível a gente vai acompanhando. E hoje estamos aqui para nos somar”, disse ao Vermelho, instantes antes de iniciar sua fala aos presentes, quando contou como foi o encontro com a presidenta da República.
“A presidenta insistiu na qualidade do transporte, mas não adianta ter estrutura se o povo não tem dinheiro para pagar. Esperávamos medidas mais concretas. Estamos aguardando, agora, o posicionamento dos governos estaduais e municipais encaminhem para a tarifa zero, que significa também o controle social do sistema de transporte público. Sendo privado ou estatal, o importante é que os usuários do sistema decidam sobre seu funcionamento, os trajetos das linhas, o transporte não deve ser mercadoria e estar a serviço de meia dúzia que lucram”, declarou Mayara.
Unidade
Jamil Murad, presidente do Diretório Municipal do PCdoB de São Paulo, lembrou que foi graças à unidade da esquerda e o esclarecimento da população, somados à busca de alternativas para sanar as deficiências sociais que levaram o país a políticas mais progressistas.
“Agora, devemos levar os trabalhadores para a rua, que se tornarão uma força invencível juntamente com a juventude. A unidade das centrais é uma vitória. Devemos abraçar a jornada do dia 11 e saudar a nossa presidenta eleita que recebeu e ainda está recebendo todos os movimentos. Com essa força, essas conquistas, determinação, ânimo, unidade, vamos fazer as transformações para elevar o povo brasileiro a um patamar muito superior. Parabéns! Unidade! Luta! Dia 11! Vamos para a paralisação, vamos para a luta, vamos para a vitória”, exclamou o comunista aos presentes.
Em entrevista ao Vermelho, Rogério Nunes, da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), também frisou a construção da mobilização para o dia 11: “A construção do dia 11 será um grande momento para a rearticulação dos movimentos sociais. A reforma política e o plebiscito são pontos centrais, inclusive, percebemos na reação imediata de setores reacionários conservadores, expressos na mídia monopolista, que estamos na direção certa, uma vez que eles são contra. Então cabe aos movimentos sociais apoiar e fortalecer a proposta de plebiscito”, afirmou.
Também estiveram presentes na reunião representantes da União da Juventude Socialista (UJS), da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), do Levante Popular da Juventude, da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e dos partidos PT, PCdoB, PSTU, Psol, PCO, PCB, PSB e PPL.